sábado, 6 de outubro de 2012

Façamos valer a pena!







Durante a semana corrente li e (re)li uma diversidade de textos com estampas de “alertas” para a seriedade contida na participação do eleitor no exercício democrático, conforme ocorrerá amanhã nos mais de 8560 municípios do território brasileiro. Já dizia um título póstumo, o herói é suspeito de ter buscado a glória ou fugido do remorso. Ao ultrapassar os interesses particulares, tais narrações alcançam a importância do objeto nelas contido, a conscientização do voto. Atos de coragem egoísta é egoísmo. A partir de uma reflexão salutar e oportuna, pretendo disparar uma análise da justa distância que nos separa das próximas eleições municipais; previstas para o primeiro domingo de outubro de 2016. Até lá, as comunidades viverão sob a “guarda” dos representantes eleitos pelas unanimidades que amanhã irão às urnas. Nesse complexo e delicado contexto torna-se oportuno discernir o que é ético do que é estético. Ao refletir sobre as características que definirão soberanas escolhas, ponderar sobre os impulsos irracionais que compõem as faculdades humanas, especialmente mediante à aflorados apetites e afetos poderá nos garantir melhores quadros na memória do futuro. Não seria a prudência o mais adequado intervalo entre a ação e o impulso? Como uma das quatro virtudes cardeais, algo comum ao período da Idade Média, a prudência por Comte-Sponville denota o desejo entre o lúcido e o razoável. E isto sim, pode nos conduzir as decisões mais conscientes. A escolha de um bom governo perpassa sobretudo, por uma análise lúcida e real dos argumentos utilizados como proposta para a gestão da comunidade em disputa. É de conhecimento quase orgânico em nossa espécie, as virtudes necessárias ao reconhecimento de uma boa liderança. Em especial, entre elas aponto a virtude da justiça. Em Platão lemos por justiça: o que reserva a cada um sua parte, seu lugar, sua função com fim na preservação da harmonia do conjunto. Respeito à igualdade de direitos e deveres. Como por exemplo, o direito de vivenciarmos uma comunidade onde os serviços públicos funcionem adequadamente, ou o mais próximo disso. O que se torna estrondoso desafio ao avaliarmos os desajustes e as misérias já cristalizados pelo sistema. Neste cenário, o tempo representa um fator preponderante nos meandros do Estado burocrático. Retroceder ou ainda, paralisar o que já está em andamento pode gerar perdas imensuráveis na resolutividade de demandas que se arrastam por décadas. A conquista do real impõe seus obstáculos, desafios e deslizes. Que possamos levar tudo isso em conta nas reflexões que proponho, sob a luz da prudência perante as urnas. A temperança foi apontada por Aristóteles como a cumeada entre os abismos da intemperança e da insensibilidade. Nestas eleições municipais, ficaremos com a polidez insultante dos grandes ou a obsequiosa dos pequenos? Passados exatos 223 anos de um importante marco na História Moderna da nossa civilização convido os cidadãos brasileiros, sobretudo, os divinopolitanos a honrar a autonomia e o respeito aos direitos sociais, conquistas da Revolução Francesa de 1789. Pelo presente e pelo futuro de nossas gerações votemos com autonomia e consciência neste decisivo sete de outubro.


COMTE-SPONVILLE, André - Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Lisboa : Ed. Presença, 1995.